Salvador para ver, ouvir, reconhecer e amar

 

No dia do aniversário da primeira capital do Brasil, relembre os pontos que fazem da cidade um dos destinos mais desejados por turistas e querida por seus moradores



 

Foto: Romildo de Jesus


Por Lily Menezes

Provavelmente, quem lê a Tribuna já deve ter ouvido alguém falando pela rua que ‘Salvador é um ovo’. A expressão, usada para brincar que em

todo canto se acha alguém conhecido, pouco tem a ver com o tamanho da cidade e menos ainda com seus atrativos. Mesmo para quem mora por aqui desde que se entende por gente, há lugares que passam batido na correria do cotidiano. E outros nos quais fazer uma paradinha é quase um ritual, ou a experiência na cidade não fica completa. Como hoje é o dia dela, a reportagem vai contar sobre uma série de locais em Salvador para quem já conhece reacender a memória afetiva, e pra quem não conhece entender por que ela aparece com frequência nos rankings de destinos mais procurados em sites de passagens aéreas e reservas.

Para quem gosta de começar o dia com um bom banho de mar, Salvador City é muito bem servida: são 64 km de orla marítima, indo de Inema (‘Praia do Exército’ para os soteropolitanos, embora apenas parte dela pertença à Marinha) até a Praia do Flamengo. Entre elas, estão São Tomé de Paripe, num dos extremos do Subúrbio Ferroviário, carinhosamente chamada de Caribe Soteropolitano por causa das águas claras e tranquilas, e Itapuã, já perto do Aeroporto, virou memória na canção de Vinícius de Moraes e Toquinho, que dizia o quanto era bom passar uma tarde lá. Mas, a praia ‘estourada’ da capital é o Porto da Barra, com sua faixa de areia estreita muito disputada aos finais de semana. A propósito, há um monumento de cruz indicando o ponto de desembarque de Tomé de Souza, primeiro governador-geral do Brasil.

 

Praia do Porto da Barra | Foto: Romildo de Jesus

Outro predicado que torna o Porto tão disputado é seu pôr-do-sol: lá é um dos únicos lugares do país onde o sol se põe sobre o mar. Se a pessoa estiver pela Cidade Baixa no fim da tarde, vale esticar as pernas pela Boa Viagem e ir para a Ponta do Humaitá, que de ‘acidente geográfico costeiro’ só tem o nome oficial. Além de uma vista interessante, é possível admirar construções históricas como a Igreja e o Mosteiro de Monte Serrat, o antigo Iate Clube do bairro e casas datadas do século 19. Aliás, de tantos atrativos, é bom tirar um ou dois dias só para bater perna e (re)conhecer a parte baixa da cidade: a Feira de São Joaquim, com ‘ruas’ que são uma explosão de cheiros, sabores e histórias, o Mercado Modelo, que tem a maior variedade de artesanatos e lembranças da Bahia, e a recém-inaugurada Cidade da Música são só alguns dos pontos de interesse.

Pega-se duas moedas, de dez e cinco centavos, para pagar a entrada do Elevador Lacerda, vizinho do Mercado e que está firme e forte desde 1930, e chegar ao Centro Histórico, onde cada rua esconde uma descoberta interessante. E faltaria papel pra citar todas: tomar aquela cachaça de lei no restaurante O Cravinho, marca registrada das festas de largo, conhecer a lendária Cantina da Lua, até hoje capitaneada pelo jornalista, contabilista e guardião do Pelô Clarindo Silva, experimentar o sorvete de coco da quase centenária sorveteria A Cubana... E, é claro, conhecer os museus e monumentos espalhados pelas ruelas de paralelepípedo, como o Museu da Misericórdia, com um catálogo de 3 mil peças que percorrem mais de 500 anos de história, o Museu Eugênio Teixeira Leal, que faz um passeio pela história do dinheiro (que anda bem em falta ultimamente), e o Memorial às Baianas de Acarajé, que honram o ofício de uma das figuras mais icônicas da cidade.

Baianas que marcam presença na segunda quinta-feira do ano, na lavagem das escadarias da Basílica do Senhor do Bonfim e um pouco depois, no fevereiro de Iemanjá e da Lavagem de Itapuã. Pois quem tem fé, vai a pé, e não importa qual seja essa fé: as atrações religiosas agradam quem é de amém, de aleluia e de saravá. Mais do que uma igreja para cada dia do ano, Salvador já tem pelo menos quatrocentas, com destaque para a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, a Paróquia de Nossa Senhora dos Alagados e, é claro, o Santuário e o Memorial de Santa Dulce dos Pobres, freira que através da caridade se tornou santa. Em Cajazeiras, há tantos terreiros quanto divisões do bairro, e lá está guardada a Pedra de Xangô, símbolo da resistência do povo negro e de santo. Nas Dunas do Abaeté, está um território sagrado que guarda as forças das tradições indígenas e quilombolas, e de grande importância cultural para toda a cidade.

E a comida? Dizem que comida baiana é outro nível. E disso Salvador entende muito bem, com ou sem dendê, indo do malassado do Restaurante Caxixi, no Dois de Julho, ao concorrido acarajé da Cira, com bancas no Rio Vermelho e em Itapuã. A relação do morador da capital com a comida é tão afetiva, que certamente ele terá aquele lugar na cabeça para chamar de seu e dizer que nenhum lugar faz igual. Como: “Não tem sorvete igual ao da Ribeira”, se referindo ao empreendimento de 1931 onde se pode desfrutar do gelado enquanto vê o dia virar noite. Ou “Melhor sanduíche de pernil que já comi na vida foi n’O Líder”, churrascaria também no centro da cidade, onde o cidadão (ainda) pode tomar uma cerveja e ver a confusão colorida que vira a Rua do Cabeça, onde feirantes anunciam aipim ‘manteiga’, laranja ‘que nem mel’ e ovos ‘do tamanho de um coco’ enquanto gente passa correndo entre as várias lojas de produtos para artesanato.

Eis outra característica curiosa de Salvador: ruas que são referência para comprar coisas. Vai fazer uma festa? Vai na Rua do Paraíso. Resolveu comprar roupa na véspera da virada do ano? A Avenida Sete (na verdade, a faixa entre a Praça Castro Alves e o Politeama) e a Barroquinha provavelmente vão ter o que você quer. Até mesmo a Djalma Dutra, rua que abriga o prédio da Tribuna - ornamentado pelos signos do zodíaco de Carybé - tem uma infinidade de lojas de material elétrico e de construção. E, não só as ruas, os bairros: a Barra e o Campo Grande são a casa do Carnaval, o Rio Vermelho é a casa da boemia e Patamares... Bom, quem conhece a Avenida Pinto de Aguiar sabe do que a reportagem está falando. Para conhecer e entender Salvador, essa senhora respeitável e misteriosa de 473 anos, é preciso entender que em cada canto da cidade – do Picolé Capelinha ao banho de cachoeira no Parque São Bartolomeu, área de preservação ambiental em Pirajá - há uma oportunidade única de conhecer do que é feita a primeira capital do BrasilFonte

Font Tribuna da Bahia

Comentários