‘Criminosos me trataram melhor do que a Justiça’, diz cabeleireiro preso por 16 meses sem provas


               
Preso por 16 meses sob suspeita de participar da morte de um homem que diz nunca ter visto, Sidney Sylvestre Vieira, 31 anos, conta detalhes de um dos dias mais
tristes de sua vida. De acordo com a Folha, Sidney contou que mesmo sendo réu primário, com emprego e residência fixa, a Justiça o manteve preso por um ano e quatro meses preventivamente pela suspeita de ter participado da morte do professor aposentado Miguel Elias, 74. O principal suspeito do crime, o marceneiro Rubens Henrique Pungirum, apontou o nome “Sidney” em um primeiro momento, mas, depois, recuou dessa versão. Disse ter citado nomes porque foi agredido por policiais. A polícia e o Ministério Público não têm provas do contrário; não há evidências de que ele tenha participado da morte do professor.
“Eu pedi para a juíza me ouvir. Mas ela só fez algumas perguntas e mandou eu permanecer calado. Aí, eu comecei a chorar, porque ela não me deixou falar. Eu disse: ‘A senhora poderia me ouvir, por favor? Eu queria falar’. Ela respondeu: ‘O senhor permanece calado’. Me tratou mal. Eu nunca mais vou esquecer”, disse.
A outra grande decepção foi descobrir que um inocente na prisão é mais bem tratado pelos presos do que pelos agentes penitenciários, “Os outros presos falaram que iriam me investigar, mas muitos deles lá, que me conheciam, falaram que eu não tinha nada a ver, disseram: ‘esse cara é tranquilo’. O meu advogado foi lá me avisar. ‘Arruma suas coisas que você vai embora.’ Nem acreditei, ajoelhei, comecei a chorar. Eu não estava esperando.Foi todo mundo gritando. ‘Graça a Deus, cara, você vai embora’. Os caras diziam: ‘Você é uma pessoa boa, não merece estar aqui.’ Muitos choraram. Ali existem pessoas que erraram, mas todos somos seres humanos, temos coração”, pontuou.
Vieira, que tem quatro filhos, foi solto no último dia 13 por ordem do juiz Gustavo Henrichs Favero, que revogou a prisão preventiva e deu a ele oportunidade de responder ao processo em liberdade. Foi uma surpresa para Vieira, que via todos os seus recursos recusados desde o ano passado, até pelo Tribunal de Justiça.
Ele ainda pode ser condenado. Para o cabeleireiro, seria a prova de que a Justiça tarda e falha.
Fonte: Folha

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