Centrão faz coro a Rodrigo Maia e ameaça com rebelião no Congresso


Inconformados com o tratamento de Bolsonaro, líderes dos partidos que compõem o grupo já falam em medidas de retaliação ao governo

As críticas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), à articulação política do governo para a votação da reforma da Previdência ganharam apoio de líderes do
Centrão, que já estavam irritados com o Palácio do Planalto. Deputados disseram nesta sexta-feira, 22, que vão recusar a oferta de cargos nos Estados e preparam novas derrotas para o Executivo semana que vem. Nessa linha, o primeiro enfrentamento deve acontecer na próxima terça-feira, durante sabatina do ministro da Economia, Paulo Guedes, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Deputados do bloco encabeçado por PP, PR, PTB e PRB avisaram a representantes do governo na Casa que pretendem abandonar a sessão, abrindo espaço para a oposição sabatinar o ministro responsável pela proposta da reforma da Previdência. Parlamentares também buscam apoio para derrubar a isenção de visto para americanos, anunciada nesta semana pelo presidente Jair Bolsonaro durante viagem a Washington. O incômodo de deputados tem relação, principalmente, com a forma adotada pelo governo para negociar cargos. Conforme o Estado revelou, articuladores do Palácio do Planalto querem que os parlamentares deixem suas digitais nas nomeações, assinando uma planilha ao lado de seu afilhado político. Outro motivo alegado para a “rebelião” é que na lista apresentada aos deputados há apenas cargos considerados sem relevância. Diretorias de estatais importantes, por exemplo, ficaram de fora. Além disso, as indicações estão condicionadas a nomes de servidores de carreira dentro de cada órgão. A gota d’água para os parlamentares, porém, foi a declaração de Bolsonaro em uma live direto do Chile, em que atribuiu a prisão de Michel Temer à “sintonia fina” que o ex-presidente mantinha com o Congresso. O deputado Domingos Neto (PSD) resumiu a insatisfação ao afirmar que o governo não pode ter uma atitude nas redes sociais e outra ao sentar para conversar. “As negociações estão paralisadas. Enquanto o governo não mudar a forma de articular, não há acordo”, afirmou. Em um movimento orquestrado, coordenadores das bancadas regionais comunicaram a suspensão das negociações por cargos. As conversas vinham se arrastando nas últimas duas semanas. “Toda a bancada está pronta para ajudar o governo, mas o governo precisa se ajudar, porque está muito bagunçado. Hoje, no Congresso, é preocupante a situação que está a interlocução”, disse Neri Geller (PP-MT). Articuladores políticos do governo tentam atuar como “bombeiros” na crise. O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, buscou deputados do PSL para organizar o discurso. Já a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), tentou apaziguar o clima ruim com Maia. “Nós estamos em um ponto de reatar a relação”, disse ela, após se encontrar com o presidente da Câmara. Joice e Onyx tentavam nesta sexta agendar um encontro entre Maia e Bolsonaro para este fim de semana. Até mesmo o filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-SP), entrou no circuito para apaziguar os ânimos. “O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, é fundamental na articulação para aprovar a Nova Previdência e projetos de combate ao crime”, disse no Twitter.
Estadão

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